Artigos › 29/03/2017

A fé que é esperança

Continuando o percurso catequético de renovação da fé batismal, no quinto domingo da Quaresma lemos a passagem da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45). Jesus é vida que vence a morte e, por isso, nossa esperança. Fazer o amigo Lázaro voltar à vida foi ocasião propícia que Jesus encontrou para manifestar a si próprio: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá” (Jo 11,25). Em Jesus Cristo se concentram todo desejo de vida plena e a esperança para a humanidade. Por isso, pergunta a Marta: “Crês isto?” (Jo 11,26). “Sim, Senhor, eu creio” (Jo 11,27).

Este diálogo nos recorda o rito do batismo, quando é realizada a profissão de fé. Paulo, em suas cartas, apresentou várias vezes a esperança cristã, ligada ao batismo, que nos insere na dinâmica da morte-ressurreição de Cristo. “Batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados. Portanto, pelo Batismo fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6,3-4). A fé professada em Cristo abre um horizonte de esperança para nossa vida, não somente para a vida pós-morte, mas como horizonte que dá sentido para nosso caminhar cotidiano. Imersos no ritmo de uma vida acelerada, sentimos dificuldades de vislumbrar um horizonte maior. Pior ainda quando nos resignamos ao “aqui e agora” e perdemos a capacidade de sonhar e construir a esperança de um mundo mais justo e fraterno. Se somos criaturas novas em Cristo, somos também colaboradores dele na construção de vidas novas, famílias novas, sociedade nova, relações novas com o meio ambiente. “Não deixemos que nos roubem a esperança” (EG 86), nos diz o Papa Francisco. Na travessia do deserto, quando são tantos os desafios que nosso povo enfrenta, precisamos de pessoas de fé, que mantenham sempre viva a esperança e ajudem a encontrar caminhos para a Terra Prometida. 

Porém, a esperança cristã também nos aponta para a vida plena, que não se esgota aqui. Pela confiança plena no Cristo ressuscitado, nos diz: “Todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11,26). Esta confiança é própria dos discípulos de Jesus Cristo, que creem nele e em suas palavras. “Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens” (1Cor 15,19), nos diz Paulo. Bem nos recordou o Papa Bento XVI, que “o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceito, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (SpeSalvi, 1). Os cristãos, com os pés no chão, olham para frente, têm um futuro, pois sabemos que a vida não acaba no vazio. Por isso, no batismo recebemos uma “vida nova”, qual dinamismo que, enraizado em Cristo, nos move a construir hoje, ainda que em sinais, o Reino prometido. 

Enfim, o batismo, pelo qual iniciamos o caminho do discipulado de Jesus Cristo, nos faz criaturas novas. “Se alguém está em Cristo é uma criatura nova. As coisas velhas passaram; eis que nasceram novas” (2Cor 5,17). O Espírito cria nos batizados a dinâmica da esperança. Somos portadores de esperança?

Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta

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