Artigos › 27/12/2017

É possível ter férias com muita diversão e gastando pouco?

Recordo-me, ainda bem pequena, de quando passava minhas férias na casa de meus tios em Salvador (BA). Família de hábitos simples e rigorosos nas regras da casa, mas, no fim do dia, sempre tínhamos mais casos bons para contar do que ruins. Tudo isso, porque sabíamos que não se tratava de uma família de grandes posses; então, já íamos para lá nos divertir um com o outro e não com tudo o que a família teria para nos divertir. E lá íamos nós!

“Subam todos, já coloquei a panela de feijão em cima da caçamba”, gritava meu Tio Pereira. Todos subiam – avô, avó, tio, neto, sobrinha, pai, mãe e primos. Nós queríamos mesmo era estar com a família, mesmo que fosse em cima do caminhão com uma panela de feijão. Lembro-me que cantávamos assim: “Pegue a esteira e seu chapéu, vamos a praia que o sol já vem (…)”. Meu Deus, quantas gargalhadas! Tudo era motivo de graça.

A chegada na praia então … como era bom! Mais uma vez, meu tio gritava: “Procurem uma sombra! E minha tia, toda “sargentona” (uma mistura de amorosa e sargenta) completava: “Ninguém entra na água sem rezar e guardar as sandálias. Nada de ir para o fundo do mar. Tem de vir beber água”. Água? Claro! Enchíamos as garrafas plásticas, antes mesmo de subir na caçamba. E lá ficávamos nós! Meus tios, primos (…) Hum! Bateu uma saudade do meu pai e de mais dois primos que não estão mais conosco! Deu tempo para aprender a amar e, na ausência, sentir saudade, porque, na simplicidade daquelas férias, tínhamos tempo de conviver.

 

Presença da família

Visita em casa ou na praia só se fosse da família. Nada de subir na caçamba gente sem intimidade. Na verdade, não me recordo nem de amigos. Era somente a família. Nesse tempo, não nos faltava nada. E como padre Zezinho canta tão bem: “Meus pais não tinham nem escola nem dinheiro. Todo dia, o ano inteiro, trabalhavam sem parar. Faltava tudo, mas a gente nem ligava, o importante não faltava, o aconchego do meu lar”.

Isso fazia das nossas férias, com tão pouco dinheiro, uma grande diversão! E pensam que acaba por aí? Não, não! No fim de tarde, todos já estavam de banho tomado; e aí de quem não tomasse banho! Minha tia Fafá – a “sargentona” e esposa de Tio Pereira – não aliviava. Sentávamos à beira da calçada, para esperar passar o homem que vendia pão. Às vezes, meu primo Messias tocava violão para nós, mas, o que não faltava mesmo era o som de Roberto Carlos nas alturas, como reclamava minha tia.

Quatro famílias que moravam ali uma vizinha da outra; quatro famílias que nasceram da pobreza e criaram seus filhos vivendo momentos tão ricos e inesquecíveis. Ah, como era bom ir de ônibus fazer feira e à cidade fazer compras! Tinha diferença sabia? Para fazer feira, podia ir de chinelo, mas para fazer compras, não. Tinha de ir arrumado, pois, íamos ao comércio, isto é, ao centro, à cidade. Assim se falava naquela época.

 

Férias sem dinheiro. O que fazer?

As crianças e os adolescentes estudam 200 dias letivos, aproximadamente quatro horas de aula por dia ou mais. Dentro de um contexto de muita pressão, corre-corre, cada qual vivendo uma realidade nem sempre tão boa. Uns em escola pública, outros em escola particular, mas todos com direito às férias. E agora, os filhos entraram de férias e os pais não? Ou todos entraram, mas a grana está curta para passeios, viagens e ida aos shoppings? O que fazer? Como fazer?

Não saberia lhe dizer, com precisão, o que fazer. Contudo, tornar a convivência familiar mais leve e alegre é um excelente começo. Quando a família reconhece que o maior problema das férias está sendo o dinheiro, precisa conversar com os filhos sobre essa necessidade. Nada em tom de miséria, mas de alegria por tudo que se viveu durante o ano. O investimento em escola, na alimentação, plano de saúde, roupas e algumas diversões, mesmo que tenham sido tão simples. Para uma família que vive de salário ou que fez a opção em investir nos estudos dos filhos, as férias não deve ser esperada como o grande momento de uma viagem à Disney ou um passeio no melhor parque de diversões.

 

Programe as férias de acordo com suas possibilidades

Para que não haja frustrações nem cobranças, antecipadamente, pais e filhos deverão programar as férias de acordo com suas possibilidades. Agora, se a família não tem o que oferecer aos filhos durantes as férias, porque todo ano tem de trocar de carro ou porque os pais passaram do limite em gastos por desejos e não por necessidade, será preciso rever os princípios que regem a família.

Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos todos precisam de descanso, de lazer. Jogar conversa fora, comer uma pizza e tomar um sorvete. Se ainda fosse em Salvador (BA), na casa do meu Tio Pereira, iríamos todos tomar um sorvetinho lá na Ribeira. Mas logo algum adulto falaria: “Só pode tomar uma bola de sorvete. Nem inventem tomar duas!”.

Tomar uma bola de sorvete, passear na praça de bicicleta, visitar um parente próximo, convidar um coleguinha para passar o dia em nossa casa, fazer pipoca para assistir a um filme, promover uma “noite do pijama”, ajudar a mãe nas atividades domésticas, ajudar o pai a lavar o carro ou sair com cada filho separadamente para passear são sugestões de diversão. Principalmente essa última dica. Cada filho diz aos pais, dentro do valor estipulado por eles, em que lugar gostaria de ir para se divertir.

Nesse dia, os irmãos não deverão estar juntos. Os filhos adoram! Sentem-se filhos únicos por um dia. O que nunca deverá acontecer é a ausência de viagens se tornar um peso familiar. Muito menos os pais jogarem na cara dos filhos os motivos que os levam a não poderem se divertir, tanto quanto os filhos esperam. Então, vamos encontrar nossa maneira de nos divertir?

Por Judinara Braz

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