Artigos › 09/11/2017

Lâmpada da fé

A pessoa sábia organiza a vida de modo tal a encaminhar tudo dentro de um projeto de ações progressivas para conquistar a felicidade maior possível. Mas só pensando em ter cada vez mais coisas materiais, cultura, saber intelectual, prestígio e fama não dá base para a plena realização. O que é passageiro sozinho não sustenta a felicidade do ser humano, que tem sede do infinito. Essa somente é saciada no encontro com o Criador. Santo Agostinho lembra que a pessoa humana se satisfaz só quando se encontra com Deus. Ele mesmo teve experiência disso.

Quem é sábio tudo faz para o encontro com o divino. É capaz até de deixar de lado o projeto de colocar a finalidade da vida no que é transitório para buscar o Absoluto. A matéria e tudo o mais que é passageiro são utilizados apenas como instrumento para o sábio unir-se ao Criador na caminhada terrena. Assim realiza sua vontade para a construção de um convívio justo e solidário. Tudo, então, se torna como um trampolim para o infinito divino.

A sabedoria de quem entra na dinâmica divina é como a fé que transforma a vida para ela ser uma verdadeira luz. A pessoa passa, então, a enxergar o caminho que leva à vida plenamente realizada. Mas a luz é apenas instrumento para a pessoa ver por onde seguir no caminho de sentido para a existência (Cf. Sabedoria 6,12-16). Todos queremos a felicidade ilimitada. Mas ela não acontece aqui na terra. Por isso, almejamos o infinito, que só é alcançado no caminho de quem pode dá-lo. Por isso, o próprio Filho de Deus vem nos apresentar a possibilidade de alcançá-lo. Isso só é possível  caminhando com ele. É desafiador, mas possível. Ele mesmo diz que o obtém quem for capaz de dar a própria vida no colocar-se a serviço do semelhante, fazendo do convívio humano uma verdadeira relação de fraternidade, justiça e misericórdia. Depois da vida terrena, cheia de solidariedade e promoção do bem comum, seremos ressuscitados para a vida imorredoura (Cf.1 Tessalonicenses 4,13-18).

No entanto, o seguimento a Cristo não é simples teoria ou empolgação momentânea. Exige prudência para não nos deixarmos conduzir sofregamente, sem atenção, compromisso, vigilância e perseverança. Não podemos ser preguiçosos e lentos para realizar o projeto de Deus a nosso respeito. Sem sacrifício, esforço e vontade contínua para praticar a justiça, o dever e colocar em prática as orientações divinas não chegamos ao objetivo da caminhada. No Evangelho Jesus narra a parábola do casamento e das moças. Algumas dessas são atentas e vigilantes. Preparam-se para participar da festa. Outras não. Essas não ficaram vigilantes e chegaram atrasadas, não tendo podido participar da festa (Cf. Mateus 25,1-13). Nós também, se não nos comprometermos e não estivermos continuamente ligados com o projeto de Deus, realizando o que Ele nos pede, não seremos recompensados por não sermos fiéis na prática do amor e da justiça. Não podemos exigir de Deus o que não merecemos por falta de esforço em colocarmos em prática o amor ao semelhante.

Nossa fé não é apenas feita de ritos e enunciado de amor. É prática do que Deus nos indica para alcançarmos a vida plena feliz. Podemos até errar na tentativa de acertar. Mas não podemos errar na falta de compromisso de tentar  praticar o amor que Deus nos pede.

Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG)

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