Notícias › 22/02/2017

Papa: combater as desigualdades que obrigam a emigrar

Desenvolvimento e integração: este é o binômio proposto pelo Papa Francisco para enfrentar hoje o desafio das migrações. O Pontífice falou sobre este tema ao receber na manhã de terça-feira, no Vaticano, os participantes do VI Fórum Internacional sobre Migrações e Paz, promovido pela Santa Sé nos dias 21 e 22 de fevereiro.

Em seu discurso, Francisco parte da constatação de que os movimentos migratórios sempre caracterizaram a história humana. Na sua essência, migrar é expressão intrínseca do anseio à felicidade própria de cada ser humano. Todavia, o Papa manifestou preocupação pela natureza forçada da maioria dos fluxos contemporâneos: transferências causadas por conflitos, desastres naturais, perseguições, mudanças climáticas, violências, pobreza extrema e condições de vida indignas.

Francisco propõe como resposta a este desafio a conjugação de quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar.

Acolher: o Papa pede uma mudança de atitude para superar a indiferença e a índole da rejeição, sentimentos muitas vezes amplificados por demagogias populistas. Para quem foge de guerras, afirma, é preciso abrir canais humanitários acessíveis e seguros. E o acolhimento deve ser feito de maneira responsável e digna, em espaço adequados e decorosos.

Proteger: Para Francisco, conjugar este verbo significa defender os migrantes da exploração, do abuso e da violência. Trata-se de um imperativo moral a ser traduzido adotando instrumentos jurídicos, realizando políticas justas, aplicando programas contra os “traficantes de carne humana”.

Contudo, proteger não basta: é preciso promover o desenvolvimento humano integral dos migrantes. Esta promoção, defende o Papa, deve começar a partir das comunidades de origem, ou seja: com o direito de poder emigrar, deve ser garantido o direito a não ter que emigrar. Isto é, o direito de encontrar na própria pátria condições que permitam uma digna realização da existência.

Uma vez emigrado, deve-se proceder a integrar os indivíduos. Um processo bidirecional que se fundamenta no reconhecimento mútuo da riqueza cultural do outro, só assim se podem evitar os novos “guetos”. Para isso, são necessários programas específicos que favoreçam o encontro significativo com o outro e o migrante não pode se fechar à nova cultura que o hospeda, respeitando leis e tradições.

“Creio que conjugar esses quatro verbos, na primeira pessoa do singular e na primeira pessoa do plural, represente hoje um dever – um dever para com os irmãos e irmãs que, por várias razões, são forçados a deixar o próprio local de origem”, disse Francisco. Este dever, acrescentou ele, é tríplice: dever de justiça, dever de civilidade e dever de solidariedade.

As desigualdades econômicas não são mais concebíveis, frisou o Papa. “Um pequeno grupo de indivíduos não pode mais controlar os recursos de quase todo o mundo. Pessoas e povos inteiros não podem viver somente de migalhas”, disse Francisco, afirmando que ninguém pode se sentir dispensado dos imperativos morais que derivam da corresponsabilidade na gestão do planeta.

“Fazer justiça significa também reconciliar a história com o presente globalizado, sem perpetuar lógicas de exploração de pessoas e territórios”, afirmou o Papa, citando o processo de descolonização e novas formas de colonialismo que ainda devem ser reparados.

O dever de civilidade inclui a fraternidade como o modo mais civil de se relacionar com o outro, já o dever de solidariedade é a capacidade de compreender as necessidades do irmão e da irmã que migram e, assim, combater a cultura do descarte.

Todos esses elementos, indicou por fim o Pontífice, requerem uma mudança de atitude da parte de todos; deixar a defesa, medo, o desinteresse e a marginalização de lado e se abrir para a cultura do encontro, “a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno, um mundo melhor”.

Francisco concluiu seu articulado discurso com um pensamento especial ao grupo mais vulnerável dos migrantes:

“Refiro-me às crianças e adolescentes que são forçados a viver longe de suas terras de origem e separados dos afetos familiares.” 

Por Rádio Vaticano

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