Notícias › 13/02/2017

Santa Sé sobre diálogo inter-religioso: não tolerância, mas irmandade

O papel do diálogo é estratégico em todos os níveis: no nível diplomático, entre credos religiosos e no plano intercultural. Em particular, o diálogo entre tradições religiosas pode contribuir notavelmente a plasmar a consciência humana.

Foi o que afirmou o observador permanente da Santa Sé no escritório da ONU e em outras organizações internacionais em Genebra, na Suíça, Dom Ivan Jurkovic, em pronunciamento esta sexta-feira (10/02) no encontro centralizado no tema “2º Diálogo sobre a Fé, construção da paz e desenvolvimento”, promovido pelas Nações Unidas e pela Organização da Cooperação Islâmica.

Amizade fraterna e harmonia sejam pontes entre religiões

No início de seu discurso, o arcebispo esloveno recordou o encontro inter-religioso realizado em 2 de outubro passado na mesquita “Heydar Aliyev” em Baku, no Azerbaijão, com o xeque dos muçulmanos do Cáucaso e com representantes das outras comunidades religiosas do país.

“É um grande sinal encontrar-nos em amizade fraterna neste lugar de oração, um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões juntas podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis”, afirmara o Papa Francisco naquela ocasião.

Não tolerância, mas irmandade

Efetivamente, nosso terreno comum não é a simples tolerância, porque esta tem um significado negativo, disse o representante vaticano.

As relações entre credos religiosos deveriam ser baseadas no conceito mais dinâmico da irmandade. Seremos responsáveis não somente pelas ações que empreenderemos, mas também por aquelas que não tomaremos. A harmonia não deve limitar-se a uma mera convivência pacífica. Seu verdadeiro sentido é o enriquecimento recíproco, explicou Dom Jurkovic.

A paz é uma conquista dinâmica

Também a paz deve ser vista com uma conotação positiva e dinâmica: a paz não significa simplesmente reconhecer o status quo, mas é uma contínua e construtiva melhora da nossa situação como família humana.

Ademais, uma paz baseada no medo e na dissuasão não pode ser considerada uma paz verdadeira. Referindo-se ao discurso que o secretário das Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher, fez em 30 de janeiro passado em Hiroshima às autoridades civis e religiosas, o prelado recordou a ameaça das armas nucleares. Não podemos aceitar que estas armas mantenham a estabilidade mundial mediante, porém, o equilíbrio do terror, ressaltou.

Na origem dos conflitos, uma visão limitada da pessoa humana

O diálogo inter-religioso e o empenho de comum acordo são cruciais para gerir eficazmente vários problemas globais, entre os quais os que estão relacionados aos direitos humanos, às migrações, às mudanças climáticas e à proteção do ambiente.

Além disso, não se deve ceder à tentação de ler as situações de tensão mediante a visão do confronto de civilização. Essa interpretação tem um impacto negativo nas religiões. Mas na origem de todas essas situações dramáticas encontra-se uma visão limitada da pessoa humana que abre o caminho para a difusão de injustiça e desigualdade, determinando desse modo situações de conflito, ponderou o representante da Santa Sé.

Paz e justiça nascem nos corações e nas mentes

A busca da paz e da justiça deve ter início em nossas mentes e em nossos corações: as religiões são chamadas a “edificar a cultura do encontro e da paz, feita de paciência, compreensão, passos humildes e concretos”, afirmara o Papa Francisco no referido encontro inter-religioso de 2 de outubro.

“A fraternidade e a partilha que desejamos fazer crescer não serão apreciadas por quem quer aumentar divisões, intensificar tensões e obter ganhos de contraposições e contrastes”, acrescentara o Papa. “Porém, são evocadas e esperadas por quem deseja o bem comum.”

A não-violência modela sociedades pacificadas e reconciliadas

Em muitas partes do mundo, a começar do Oriente Médio – disse em seguida Dom Jurkovic –, uma abordagem que preveja a construção da paz mediante o estilo da não-violência é hoje tão necessária não somente para acabar com o conflito sírio, mas também para promover sociedades plenamente reconciliadas e para renovar a pacífica convivência civil.

O diplomata vaticano acrescentou que o Papa Francisco fez do diálogo inter-religioso uma de suas prioridades. Durante a viagem à República Centro-Africana, encontrando muçulmanos, católicos e protestantes, o Santo Padre recordou, entre outras coisas, que a religião não divide as pessoas, sobretudo as une.

Manipulação da religião pode acabar em violências e conflitos

As comunidades religiosas e étnicas jamais devem tornar-se um instrumento de lógicas geopolíticas regionais e internacionais, ressaltou o arcebispo.

Na carta de 2015 aos bispos da Nigéria, o Papa ressalta que quando inocentes são assassinados em nome de Deus, a religião não deve ser chamada em causa, mas a sua manipulação para outros fins.

Em sua recente viagem apostólica à Suécia o Papa recordou também a necessidade de curar as feridas do passado, de empreender um caminho comum. Esse diálogo é possível e o demonstra o exemplo do histórico encontro em Cuba entre o Santo Padre e o Patriarca Kirill de Moscou, afirmou Dom Jurkovic.

Paz, justiça e perdão são complementares

Por fim, o representante vaticano recordou os múltiplos esforços do Papa em favor da promoção da paz. Em particular, deteve-se sobre o encorajamento à Venezuela a um diálogo social autêntico e construtivo.

Igualmente, referindo-se à delicada situação na Colômbia, o Papa Francisco ressaltou a importância da unidade, da reconciliação e do perdão. Paz, justiça e perdão são reciprocamente complementares: não pode haver paz sem justiça, nem verdadeira justiça sem perdão, concluiu.

Por Rádio Vaticano

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