Artigos › 17/05/2018

Uma só língua

A bíblia narra a história da torre de Babel. Nela vem apresentada a vontade de o ser humano se unir para chegar ao céu e dominar tudo como tivesse o poder divino. Mas, com esse intento, o ser humano erra e se desentende, não conseguindo realizar seu projeto de dominação (Cf. Gênesis 11,1-9). Apoderar-se do divino sem seu poder leva a humanidade a viver em verdadeira confusão. Só um homem é Deus, o Filho dele. Provou-o sua ressurreição. Andando como e com Ele aprendemos a falar, mesmo com línguas ou realidades diferentes, a linguagem que nos leva à união e a divinização do humano na caminhada neste planeta. Só com a linguagem do amor é que vamos nos entender para nos ajudarmos mutuamente e, assim, construiremos uma sociedade mais justa.

A ação do Espírito Santo inundou os discípulos de Jesus no dia de Pentecostes, para eles superarem o medo e se encherem de entusiasmo para propor a todos o caminho que leva ao entendimento, à promoção da justiça e da solidariedade. Esse mesmo Espírito atua em pessoas do bem, que ajudam a humanidade a ter o coração  compassivo e disponível, com a humildade de saberem que são instrumentos de Deus para a promoção do bem comum. O esforço para a superação das rivalidades, dos ódios e dos mecanismos de morte faz com que muitos se coloquem em ações de real serviço aos mais frágeis e carentes de promoção e superação de seus males.

O apóstolo Paulo mostra a realidade humana que vive como em dores de parte, devido aos males causados pelo pecado e toda a maldade na convivência social (CF. Romanos 8,22-14). De fato, as armas feitas para as guerras e mortes, o flagelo da forme de um quarto da humanidade, assassinatos e mortes no trânsito aos milhares, exclusões sociais aviltantes, corrupção bastante ampliada e outros males só podem ser combatidos e superados com a consciência do verdadeiro amor trazido pelo Filho de Deus e inoculado nos corações pelo Espírito Santo.  Quem tem sinceridade de coração e coopera com a ação desse Espírito fala a linguagem do Cristo e colabora com o entendimento e promove a solidariedade humana, superando a Torre de Babel.

Usufruimos da água da fonte de Cristo (Cf. João 7,37-39) quando nos deixamos impulsionar por seu amor, na atitude de quem se embebe do líquido santo da compaixão, da vontade de ser canal de condução da  verdade, do caminho e do amor dele para ajudar quem precisa de compreensão, de justiça e de paz.

Muitos complicam a convivência devido a seu fechamento em si mesmo e falta de altruísmo e sensibilidade em relação às carências do semelhante. A linguagem do amor nos torna mais felizes por sabermos viver com mais riqueza de doação. É mais fácil convivermos no entendimento do que na rispidez e fechamento em relação aos outros. Basta experimentarmos ser mais solidários para percebermos que somos mais felizes em dar do que em só querer receber!

Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo de Montes Claros (MG)

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