Artigos › 07/10/2016

Direito da juventude ao trabalho e à vida digna

No mundo de hoje, tudo se torna rapidamente descartável, inclusive os seres humanos. Uma grande parte da humanidade está excluída da possibilidade de viver com dignidade. É estarrecedor saber que milhões de jovens de todo o mundo amargam a experiência de se sentirem descartados. A juventude quer viver, mas encontra muitos obstáculos, entre os quais a falta de oportunidades para trabalhar ou o trabalho em condições precárias.

Muitos jovens se defendem como podem na economia informal, criando seus próprios trabalhos ou aceitando qualquer tipo de emprego, sem contrato e proteção social. Vivem na insegurança total. Não têm acesso fácil à educação técnica profissionalizante, menos ainda de nível superior. Poucos conseguem contrato de aprendizagem. Sem experiência, não são facilmente empregados.

Muitos sofrem discriminações por serem jovens, mulheres, negros e imigrantes ou por suas orientações afetivas. Trabalhadores e trabalhadoras de muitas categorias, sobretudo das que são pouco fiscalizadas por órgãos públicos e sindicatos, sofrem abusos de todo tipo. Essas condições tendem a piorar com a crescente flexibilização das leis de trabalho e as consequentes perdas de direitos adquiridos ao longo de tantos anos de luta.

Essas situações foram amplamente tratadas no Conselho Mundial da Juventude Operária Cristã Internacional (JOCI), no final de setembro deste ano, na Alemanha, por jovens trabalhadores e trabalhadoras de 20 países de todos os continentes, que compartilharam experiências de vida, analisaram a realidade da juventude trabalhadora no mundo de hoje e interpretaram suas causas, concluindo que existe uma crise sistêmica.

A crise econômica mundial chama a atenção. Constata-se, no entanto, que a crise é estrutural. O sistema capitalista que impera no mundo é intrinsecamente incoerente. Produz riqueza e pobreza. Sua lógica de concorrência econômica e concentração de capital está associada à exploração da força de trabalho e ao descarte de quem não é considerado capaz e útil. É um sistema perverso. Segundo o Papa Francisco, é um sistema “intolerável”.

O Papa, em sua Encíclica Laudato Si, o caracteriza como “um sistema mundial, no qual predominam a especulação e o princípio de maximização do lucro, e uma busca de rentabilidade financeira que tende a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e o meio ambiente. Assim, se manifesta a íntima relação entre degradação ambiental e degradação humana e ética”. Em sua lógica destrutiva, tudo se reduz ao mercado e ao “cálculo financeiro de custos e benefícios”.

Compreende-se, portanto, a importância dada pelo Papa ao Conselho Mundial da JOC Internacional, que analisou essa problemática e buscou soluções, dirigindo-lhe uma carta desejando “que esses dias de amizade, estudo e compromisso compartilhado, favoreçam a consciência da dignidade de cada pessoa, o valor do trabalho humano e a necessidade de respostas comuns e acertadas frente aos desafios enfrentados pelos jovens, particularmente, jovens trabalhadores”.

Por Dom Reginaldo Andrietta – Bispo de Jales

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