Artigos › 17/06/2020

Há algo tão importante quanto saber dar: saber receber

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Felizes beneficiários do dom da vida! A primeira parte da nossa existência passa pelo recebimento.

Durante toda a nossa infância, nos beneficiamos dos inúmeros cuidados de que nossa fraqueza precisa: cuidados corporais sem os quais o bebê não pode sobreviver, cuidados afetivos para ampliar o coração, cuidados espirituais e o dom da graça sacramental que nos apresenta a Cristo.

Ao longo de nosso desenvolvimento, aprendemos a compartilhar, embora não sem gritos de raiva ou negações bruscas! Essa aprendizagem para dar exige muitas repetições antes que se torne mais fácil.

O casal formado passa pelas mesmas etapas. No impulso inicial, cada um procura preencher o outro com seu amor. A chegada do primeiro filho perturba esse belo equilíbrio.

Os pais jovens devem realizar seu sonho, sua paciência, seu lazer, sua tranquilidade … O recém-chegado exige presença, atenção, carinho, em detrimento do tempo que cada pai prefere guardar para si mesmo.

Assim, a família, depois de ser o lugar onde recebemos tanto, torna-se uma escola de treinamento para dar muito de si.

Mesmo se você vive progressivamente e com amor, não há falta de sofrimento, nostalgia e até amargura.

O mesmo acontece em todos os nossos compromissos: após o entusiasmo inicial que estimula nossa generosidade, experimentamos, ao longo dos anos, a dificuldade em permanecer fiel à rendição do começo.

Somos feitos assim: é mais fácil derrubar-nos do que nos abrir aos outros. No entanto, “amar é dar tudo, dar-se a si mesmo”, como dizia Santa Teresa de Lisieux. Então, como você entra na dinâmica do dom?

Um pouco de esforço pode se transformar num grão de ouro

Vamos meditar na aventura do mendigo na história do grande romancista indiano Rabindranath Tagore:

“Eu estava pedindo, de porta em porta pelo caminho da vila, quando sua carroça de ouro apareceu à distância como um sonho magnífico.

E me perguntei, espantado, quem seria o rei dos Reis. Minhas esperanças voaram para o céu e pensei que meus dias ruins haviam acabado. E fiquei esperando esmolas espontâneas, tesouros derramados no pó.

A carruagem parou ao meu lado. Você olhou para mim e desceu sorrindo. Eu senti que a felicidade da vida tinha finalmente chegado à mim. E de repente você estendeu a mão direita para mim dizendo: ‘Você pode me dar alguma coisa?’

Ah, que ocorrência a da sua realeza! Pedir a um mendigo! E fiquei confuso e não sabia o que fazer. Então, lentamente, tirei um grão de trigo da minha bolsa e dei para você.

Mas que surpresa eu levei quando esvaziei minha bolsa no chão à tarde, encontrei um grãozinho de ouro na miséria da pilha. Quão amargamente chorei por não ter coração para lhe dar tudo!”

Quando temos dificuldade em responder a um pedido, lembremos que nosso pequeno esforço pode se transformar num grão de ouro!

Ou melhor ainda: seguindo os conselhos de Santa Teresa do Menino Jesus às suas noviças, podemos pedir a Deus que seja nosso Mestre Interior, para que Ele seja a fonte de toda a nossa atividade, substituindo o nosso “eu” interior.

Dediquemos tempo à adoração e nos deixemos transformar aos poucos por Jesus que se entregou por nós.

Porque, como disse São Bernardo: “Tudo está Nele: os remédios para suas feridas, a ajuda que você precisa; a correção dos seus defeitos, a fonte do seu progresso, enfim, tudo o que um homem pode e deve querer”.

A partir do momento em que sentimos que “dar é receber”, obteremos a força e o impulso de compartilhar com o nosso próximo o que temos e o que somos.

Por Rolande Faure, via Aleteia

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