Impacto Vocacional: Senhor o que queres de mim?

Sou Ir. Rita de Cássia do Nascimento natural de São Sebastião de Maranhão MG.
Pertenço a Congregação das Pequenas Missionária de Maria Imaculada, fundação brasileira em São José dos Campos SP.
Aos 17 anos, comecei a sentir o chamado de Deus de maneira mais forte diante da insistência da minha irmã mais velha, Efigênia. Ela já estava na Vida Religiosa. Preparando-se para a etapa de formação do noviciado, foi passar o seu tempo de férias em casa. Falava das experiências no convento e cantava musicas vocacionais demonstrando muita alegria quando falava da consagração a Deus. Eu, embora sentisse forte o desejo de seguir a Jesus, como é normal em toda decisão, sentia muito medo e pensava não ser esse o chamado de Deus para comigo. Queria também constituir uma família. Meus pais me pediam para ir com ela, se eu percebesse que não era a minha vocação que eu voltasse sem nenhum problema. Com muitas duvidas eu intensifiquei as orações e pedi a Deus um sinal. Eu tinha muito medo desde criança de quando morresse de ir para o inferno. Quando ouvia a passagem bíblica onde Jesus diz que ao voltar para o julgamento final, Ele colocaria os cabritos a sua esquerda e as ovelhas a sua direita, o meu maior dilema era: De que lado vou estar? E Deus usou justamente do meu ponto mais fraco, de meu medo infantil, mas que ainda perdurava com muita força dentro de mim, para me confirmar o seu chamado. Dois dias antes de minha irmã viajar, sonhei com Jesus que me dizia com muita ternura: Se você me seguir quando eu voltar você estará do lado das ovelhas. Acordei-me com profunda alegria, coragem e certeza de que eu deveria partir. Foi só o tempo de meu pai sair às pressas, numa longa distancia, para providenciar a minha passagem e eu juntar o pouco que tinha de minhas roupas e com algumas que ganhei da minha Irmã e arrumar a minha sacola, nem mala eu tinha. Eu calçava 37, mas como não tinha sapato, minha mãe me ofereceu uma sandália que acabara de ganhar, mas de numero 39, imaginem a sena. Fui assim mesmo. Pelo caminho eu ia pegando folhas de mato para colocar na ponta da sandália para conseguir caminhar.
Ao despedir de minha mãe e de meu pai vi que os olhos deles se encheram de lágrimas. Era a primeira vez que eu via meu pai chorando. Embora com o coração apertado, mas firme e certa do que eu deveria fazer, segurei as lagrimas e sai sem olhar para traz, pois tinha medo de que eles pensassem que eu estava indo contra a minha vontade. Uma certa distancia, já longe de sua presença chorei profundamente.
Chegando ao convento em São Jose dos campos, depois de uma viagem de mais de 1000km, fui recebida por uma Irmã que veio ao nosso encontro com muita alegria. Sorrindo me chamava pelo nome, pois já tinha ouvido falar de mim pela minha Irmã. Naquele momento eu não conseguia ver a Irmã, eu via a pessoa de Jesus a me receber com profunda alegria e me dizer aqui é o seu lugar, aqui é o seu lugar. Que experiência marcante! Vinte e três dias depois eu iniciava minha caminhada já como aspirante na Congregação. Era naquele tempo, depois do processo de acompanhamento vocacional, a primeira etapa da formação interna.
Todos os anos de minha formação decorreram muito bem e a cada etapa era uma alegria dar um passo a frente e responder: “Vós me chamastes aqui estou Senhor!”
Dois anos depois da minha primeira profissão eu já tinha seis anos de caminhada e a minha Irma oito anos, recebi uma forte pancada no meu coração. Minha irmã me chamou e me disse, estou voltando para casa. Sinto que não é aqui o meu lugar. Não lhe disse antes por medo de atrapalhar a sua caminhada, mas eu sempre caminhei com muitas dúvidas, mas vejo que preciso tomar esta decisão. A dor foi muito profunda, ate porque, ela não foi para me dizer o que eu achava, ou ir me preparando aos poucos, mas para me comunicar que já estava decidida e muito perto de sua saída. Embora com profunda dor entendesse que se ela não se sentia chamada, com certeza, deveria ser esta a sua decisão, tudo isto me custou muito. Porém, em nenhum momento eu pensei em voltar atrás.
Todos os dias de minha caminhada na formação confirmava cada vez mais a minha vocação, não imaginava e nem imagino a minha vida fora do seguimento de Jesus na Vida Consagrada. Não obstante, no meu coração havia, no mais profundo uma saudade inexplicável. Um desejo muito forte de algo mais. Mas o que e onde? Até que um dia ao participar de uma ordenação diaconal, ao chegar no local onde seria a celebração, o coral ensaiava com uma vibrante alegria o canto alma missionária: “Leva-me aonde os homens necessitam das palavras, necessitem da força de viver, onde falta a esperança onde tudo seja triste simplesmente por não saber de ti.” Uma forte emoção tomou conta do meu coração e eu fiquei muito tocada. Perguntava então a Deus no meu intimo: Senhor onde eu devo ir que seja mais forte do que o lugar que estou? Naquela ocasião no ano de 2011 eu fazia um trabalho de evangelização na Santa Casa de Misericórdia em Barretos. Percorríamos todo o hospital a visitar os doentes, prepará-los para receber a visita do Padre, levava comunhão e onde precisavam de nós estávamos lá. Amava muito aquela missão. Diante deste apelo de Deus em meu coração eu não conseguia me encontrar em nenhuma das obras de evangelização que tínhamos, ser mais forte para mim do que na que eu estava no momento. Terminou a Cerimônia de ordenação e voltei para casa profundamente comovida, tocado, ferida como uma flecha na alma. Perguntava constantemente Senhor o que quere de mim? Chegando em casa minha superiora veio ao nosso encontro com muita alegria e nos diz: Tenho uma grande novidade a lhes comunicar, tivemos um pedido para a abertura de uma casa de missão na África. Aquele comunicado me fez estremecer as entanhas. Com muito medo eu dizia, Senhor África não… Meu Deus, África não. Não vou conseguir… mas… como diz o canto: “Tua força venceu e a final eu fiquei seduzida… senti que era mesmo o apelo missionário, então superando todo o medo eu disse: Se é a tua vontade Senhor, eis-me aqui. Invadiu-me uma alegria indescritível. A partir deste instante mesmo continuando ainda um ano para ir para a missão em África, nos meus pensamentos e no meu coração eu já havia atravessado o oceano. Tudo o que eu fazia me reportava a Missão na África. Quando recebi a confirmação de que já poderia voar, fui despedir-me de meus pais. Que alegria imensa! Ao falar com a minha mãe ela me olhou profundamente e com os olhos já se enchendo de lágrimas, mas numa fé profunda me disse: “Filha eu sofri muito quando você nos deixou pela primeira vez, mas agora eu já lhe entreguei para Jesus que ele faça com você o que Ele quiser.” Foi indescritível a força que ela me deu naquele momento. Tudo foi sendo preparado com muita alegria e no dia 28 de novembro de 2012 eu deixava meu povo, minha terra, minha cultura e o todos os meus familiares para “partir para a terra que o Senhor havia me indicado.” Parecia como a noiva a encontrar o seu noivo no dia das núpcias. Que alegria que nada no mundo pode nos dá! No dia 29 eu estava entrando numa terra que aparentemente me era estrangeira, mas bem dentro de mim já era a minha terra onde o Senhor com toda ternura já havia me ensinado a amar e a desejar fazer a minha morada… por quanto tempo? Só Ele sabia, talvez até seria a terra onde meu corpo repousaria eternamente. Hoje já com quase 09 anos de Missão parece que acabei de chegar. Que alegria encontrar Deus tão presente, visível e palpável no meio deste povo tão sofrido, com tanta pobreza de todos os tipos. “Aqui encontrei o meu tesouro escondido, o campo que me faz vender tudo para possui-lo”.
A realização do chamado de Deus em nossa vida é a maior alegria que possamos experimentar neste mundo. Doar a vida enquanto muitos se preocupam em assegurar os bens deste mundo.
Não tenhais medo de dizer sim ao projeto de Deus em sua vida. Como é bom amar e seguir o que nos pede o Senhor.

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