Artigos › 22/08/2019

Maria, exemplo de fé

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Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45)

No último dia 18 de agosto, a Igreja celebrou a solenidade da assunção de Nossa Senhora. De fato, porque Maria “assumiu” Deus em sua vida, completados os seus dias na terra, ela foi “assumida totalmente” por Deus; porque ela deixou Deus ser grande em sua vida, Ele a engrandeceu plenamente. Em Maria, o Pai traçou como que um esboço daquilo que, um dia, acontecerá com toda a Igreja, porque também a Igreja, hoje, é mãe, como Maria é, pois do mesmo modo como Maria gerou, cuidou e alimentou Jesus Cristo, também a Igreja gera filhos para Deus, pelo sacramento do Batismo; cuida destes filhos, pela pregação da Palavra; e alimenta-os, com a Eucaristia. Maria, portanto, é tipo e figura da Igreja, porque ela já o que seremos um dia! Não é à toa que, na oração da Salve Rainha, todos chamam-na de “vida, doçura e esperança nossa”.

Em outras palavras, em Maria, Deus quis mostrar quão grande e profunda foi a redenção operada por Cristo e, ao mesmo tempo, a que tamanha glória pode conduzir a criatura que se deixa envolver inteiramente por Ele. Para alcançar, porém, prêmio tão excelso, poderíamos apontar diversas características de Nossa Senhora; virtudes, que somos convidados a imitar. Das muitas que aparecem, de acordo com o Pe. Raniero Cantalamessa, se sobressaem a e a humildade.

Ao lado de Abraão, o “pai da fé”, Maria é também tida como um exemplo a se seguir. Desde a anunciação do anjo Gabriel acerca do projeto do Pai (cf. Lc 1,26-38), ainda que se questionando como se realizaria, acreditou e abriu-se ao “fiat” (faça-se). O Antigo Testamento começa com o “Faça-se a luz” (cf. Gn 1,3); graças, porém, ao “Faça-se” de Maria (cf. Lc 1,38), é a própria Luz que vem a nós, mas não como uma realidade externa que apenas contemplamos e admiramos, mas sim como um referencial de vida e de amor. “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A abertura e a confiança de Maria no projeto do Pai também a ajudou a permanecer ao lado de Jesus até o fim, inclusive durante a morte Dele na cruz. Não é à toa que Isabel a saudou: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45).

Maria também é humilde. “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu salvador, porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,46b-48). De fato, Maria foi cheia de graça porque era vazia de si. Aliás, o Papa Francisco, na exortação Gaudete et Exsultate, sobre o chamado à santidade nos dias atuais, disse à Igreja que a santidade e a humildade só podem se enraizar no coração se aprendermos a suportar as humilhações e as provações que a vida, no seu constante devir, apresenta-nos.

Além de tudo isso, consola-nos saber que podemos contar com o auxílio e a proteção da Mãe, a quem invocamos, tantas vezes, como advogada, medianeira, auxiliadora, socorro… Sim, ela nos ajuda, mas é preciso se lembrar sempre que “um só é o nosso mediador” (1Tm 2,5-6) e que esta mediação, que Maria exerce, é subalterna àquela que o Senhor Jesus realizou, única e eterna. No entanto, assim como no início o Senhor Deus olhou para Adão e viu que não era bom que ele estivesse sozinho, dando-lhe uma auxiliar (cf. Gn 2,18-25), também o Filho olha hoje para todos nós e nos dá, a cada instante, sua própria Mãe como nossa, para a qual também olhar e dizer: “Essa, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2,23). Ou seja, voltamos nosso olhar para Maria e confiamos: Se ela foi capaz, eu também posso ser!

Olhamos, portanto, para Maria e percebemos um novo sentido para a nossa peregrinação: ainda não estamos em casa, mas a caminho! Comungamos o Cristo hoje na firme esperança de que, um dia, quando fecharmos os olhos para esta vida, seja Ele a nos comungar.

Para isso, no entanto, é preciso dispor-se ao encontro. Nossa meta é a participação na vida divina, mas o caminho para a subida nos pede, acima de tudo, que olhemos para baixo: sempre que descemos em direção à humanidade ferida e excluída, nós nos elevamos. O subir para Deus passa pelo descer aos irmãos. “Para partilhar a vida com o povo e dar-nos generosamente, precisamos reconhecer também que cada pessoa é digna de nossa dedicação. E não pelo seu aspecto físico, suas capacidades, sua linguagem, sua mentalidade ou pelas satisfações que nos pode dar, mas porque é obra de Deus, criatura sua. Cada ser humano é objeto da ternura infinita do Senhor e Ele mesmo habita na sua vida. Na cruz, Jesus Cristo deu o seu sangue precioso por essa pessoa. Independentemente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece nosso afeto e nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida”. (Papa Francisco, Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, n.274).

Contemplando, portanto, Maria, seguindo a tradição do grande místico São Bernardo de Claraval, lembramo-nos de uma famosa passagem de seus sermões “Em louvor da Virgem Mãe”: Respice stellam, invoca Mariam, confiando que na medida em que lhe damos um “pouco de nós”, ainda que sejam dificuldades e aflições, ela também nos dá “um pouco de si”:

Se os ventos das tentações surgirem, se encontrares os rochedos das tribulações, olha para a estrela, invoca Maria.
Se fores abatido pelas ondas do orgulho, da ambição, da maledicência, da rivalidade, olha para a estrela, invoca Maria.
Se a ira ou avareza, ou desejos desordenados castigaram o navio de tua mente, olha para a estrela, invoca Maria.
Se preocupado com o tamanho de teus crimes, confuso com a consciência de teu grande erro, aterrorizado pelo medo da justiça divina, começas a ser engolido no abismo da tristeza, e na voragem do desespero, pensa em Maria.
Nos perigos, nas angústias, nas incertezas pensa em Maria, invoca Maria.

Ela, membro da Igreja por excelência e, ao mesmo tempo, Mãe, ajude-nos a permanecer no seguimento de seu Filho, Jesus Cristo, que é razão do nosso ser e do nosso agir. Amém.

Por Pe. Tiago Cosmo da S. Dias do clero diocesano de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, atualmente vigário paroquial na Basílica de Nossa Senhora da Penha. É jornalista e bacharel em Filosofia e Teologia pela Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI, em Mogi das Cruzes. É pós-graduado em Religião e Cultura, pelo Centro Universitário Assunção (UNIFAI), em São Paulo, e em Cultura e Comunicação, pela PUC-SP, em parceria com o SEPAC-Paulinas.

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