Artigos › 03/03/2017

Quaresma, preparação para a Páscoa

Neste tempo que começa na Igreja, a Quaresma, que vai da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa pela manhã, somos chamados a viver em Cristo preparando-nos para a celebração da festa mais importante do ano, a Páscoa: a morte e ressurreição de Jesus e a nossa. Como a palavra Quaresma sugere são quarenta dias que recordam os quarenta anos em que o povo de Israel, atravessando o deserto depois da fuga do Egito, passou pela provação da e na fé, a fim de poder entrar na terra prometida. Recordam também os quarenta dias em que Jesus se retirou ao deserto para se dedicar à oração e à penitência do jejum, e ser tentado pelo diabo; uma preparação a que Jesus se submeteu como preparação para a sua vida apostólica que começava. Todos os grandes acontecimentos que são celebrados como festas, a festa da entrada na terra prometida, a festa do anúncio da chegada do Reino de Deus e sua justiça, as festas dos mistérios do Senhor, as festas de Nossa Senhora e dos Santos, foram previamente preparadas e são sempre renovadas na Liturgia da Igreja por tempos fortes de preparação (tríduos, novenas, Advento, Quaresma). A Igreja, ou seja, todos nós somos convidados a entrar generosamente nesse ambiente de preparação, que é tanto mais longo quanto mais importante é o evento a ser celebrado. A Páscoa, a maior festa, deve passar necessariamente por esta preparação de quarenta dias. 

A palavra chave na preparação de toda festa religiosa é a conversão. A Quaresma nos propõe a conversão de vida pela vivência dos exercícios espirituais da oração, jejum e caridade. Os textos bíblicos da Quarta-feira de Cinzas já nos colocavam no clima da Quaresma: “Voltai-vos para o Senhor, com todo o coração, com jejuns, lágrimas e gemidos… Reuni-vos todos em celebrações de culto e oração… Suplicai o perdão do Senhor… O Senhor é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia” (Joel 2,12-18). Paulo dizia: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). No Evangelho, Jesus pedia : “Ficai atentos… Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita… Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa… Quando jejuares, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas… E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa” (Mt 6 1-6.16-18).   

Neste primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho é o das tentações de Jesus – Mt 4,1-11. O Espírito conduziu Jesus ao deserto para um recolhimento espiritual, onde Ele jejuou por quarenta dias e quarenta noites, estando em comunhão permanente de oração com o Pai. Findos os quais, Jesus estava com fome e o tentador aproximou-se de Jesus e, com astúcia, o provocou: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!”. Jesus, porém, sem perder a calma, respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. Então, o diabo levou Jesus para a parte mais alta do templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a seu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”.  E o diabo O levou para um monte muito alto, e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e sua glória e Lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto”. Mateus conclui a passagem, registrando: Então, o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus”.       

No sentido evangélico as tentações em geral, e em particular as de Jesus, não significam solicitações para fazer o mal, mas devem ser entendidas como provas, provações, lutas a que o povo ou pessoas, no caso, o próprio Jesus deviam passar. Por essas provações as pessoas de fé comprovavam a sua fidelidade a Deus. Assim sendo, a Quaresma é um tempo de comprovação da nossa fidelidade a Deus. Nesses momentos de retiro espiritual, de mais oração, penitência, jejum, sacrifícios, como da Quaresma, é que o diabo vem nos tentar. Ele vem precisamente questionar a nossa fé, nossas convicções, nossa paciência, com todas as artimanhas que ele sabe muito bem manejar. Vale a pena observar que Jesus respondeu ao demo servindo-se da Palavra de Deus. Nas três tentações Jesus começou com esta expressão: “Está escrito na Palavra de Deus…” Diante da Palavra de Deus, o bicho feio não tinha como contrapor. Até que, enfim, desistiu, e, bufando enxofre queimado pelas ventas, se mandou.

À conversão quaresmal se conjugam outras palavras: provação, penitência, purificação, em resumo, “oração, jejum e caridade”. 

O gesto concreto da Quaresma deste ano vem proposto pela Campanha da Fraternidade 2017, cujo tema é “Biomas brasileiros e defesa da vida”, e cujo lema é “Cultivar e guardar a criação”. 

Venha participar na sua comunidade de Igreja das celebrações de preparação para a Páscoa, procurando seguir o modelo da vida de Jesus Cristo que passou quarenta dias em oração, jejum e penitência a fim de realizar vitoriosamente o combate contra o mal e o pecado e a implantação do Reino e Deus com a sua justiça. Se Jesus, o Filho de Deus e sem pecado, foi tentado, nós também o seremos. Mas, porque foi tentado e provado, Jesus pode nos ajudar nas tentações. É Ele quem nos ensinou na sua mais bela oração a pedir ao Pai: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém!”

Por Dom Caetano Ferrari – Diocese de Bauru

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